quarta-feira, 30 de março de 2011

O Lago dos Cisnes




É estranho e assustador ver como a nossa mente pode dominar totalmente o nosso corpo. Como a gente pode se tornar refém de si mesmo. Como se fossem duas coisas separadas e não um conjunto, uma lutando contra a outra, por vezes como inimigos. É isso que vemos no fantástico Cisne Negro, um filme que vem ganhando a atenção que merece, pois é uma obra fantástica. A trama aborda divinamente a obsessão dos artistas em se destacar e sempre fazer melhor.
A trama conta história de uma bailarina inocente, esforçada e sem vida própria vivida pela Natalie Portman, que é totalmente dedicada ao balé, por vezes de uma forma insana, totalmente submetida a sua mãe, que vive pelo sucesso da filha por ter tido sua carreira interrompida ao dar a luz. Assim, ela deposita os seus sonhos em Nina, o que acaba se tornando um fardo pesado demais.
Mas apesar dessa definição dada acima, isso é somente o plano de fundo para o argumento do filme, a história pode parecer previsível, mas realmente não é. Ela conta a luta na busca da perfeição, do movimento e da emoção exatos, de se entregar totalmente ao personagem, muitas vezes não conseguindo separar um do outro. O filme vai passando e mostra os esforços de Nina que quer de todos os jeitos ser escolhida a Rainha dos Cisnes, em O Lago dos Cisnes, e assim gradativamente percebe-se que quanto mais perto dos personagens ela se encontra mais perturbada Nina vai ficando. Essa perturbação da bailarina é alicerçada na exigência que todos depositam nela, no tempo que vai passando sem se destacar e na ameaça de outras bailarinas mais novas e ambiciosas querendo ocupar o seu lugar.
A mente de Nina pira, literalmente, o seu lado emocional aflora tanto até que ela sinta esses efeitos na pela, literalmente de novo. E isso só aconteceu de uma forma tão fantástica pela incrível Natalie Portman, que deu vida a esse papel de uma forma beirando a loucura. Sabendo exatamente o tom certo da personagem, na medida, conseguindo flutuar da menina doce e submissa do primeiro ato, que interpreta o cisne branco divinamente até quando enfim ela perde essa inocência e se entrega ao cisne negro na procura da perfeição tão requisitada. Juntar essas duas partes pode não ser tão fácil como parece, fazer com que o negro e o branco virem um só, mantendo as diferenças é um trabalho que mexeu com a cabeça de Nina de uma forma irreversível, como mostrado no filme, beirando a insanidade o tempo todo.
Além de Natalie outros atores maravilhosos deram tom ao filme e completaram a obra, tanto a mãe dela que se apóia na filha, para realizar o seu sonho perdido, o diretor da companhia de dança que ajuda a aflorar, provocar o cisne negro que existe em Nina, seu lado obscuro que ainda não despertou e principalmente a ótima atriz Mila Kunis, a qual é uma rival de Nina na companhia, e é vista pela bailarina como uma ameaça pela sua beleza e sensualidade natural. A personagem de Kunis está sempre comendo pelas beiradas o que perturba seriamente Nina.
O longa é dirigido por Darren Aronofsky, um diretor incrível que tem muitos filmes ótimos em seu currículo, tais como Réquiem por um sonho, Fonte de Vida, O Lutador, entre outros. A câmera de Darren em Cisne Negro por vezes é tão íntima que parece que estamos bisbilhotando a vida íntima da personagem, a sua luta pela perfeição, as suas frustrações e vitórias, e principalmente as suas transformações, é tudo tão pessoal.
Muito além do que um filme que fala sobre a arte do balé, a vida dos bailarinos, a cobranças nesse ramo, é uma obra que adentra no psicológico, tanto dos personagens, como da gente. Cisne Negro vem para nos mostrar o quão reféns nós somos de nós mesmos.

Lembrando que Natalie levou os Oscar de Melhor atriz em Março, Aronofsky o Oscar de melhor diretor, e que infelizmente Cisne Negro perdeu o Oscar de melhor filme para O discurso do rei.

Marília Dalenogare.

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