terça-feira, 17 de agosto de 2010

Uma outra roupagem





Uma questão bem interessante para ser analisada em muitos filmes, para quem gosta de boas atuações inesperadas é o uso de atores cômicos em filmes ou papéis mais dramáticos. É uma mudança de ares bem importante, pois parece que eles se esforçam mais, parece não, acredito que eles se esforcem mesmo, pois na comédia eles já estão garantidos e consagrados, o drama é um campo novo e desconhecido que eles têm que atuar com maestria. Onde eles precisam provar todo o seu talento como no início da carreira, como se seu currículo tivesse sido apagado e eles tivessem que construir sua história novamente.
E é aí que eles mostram sua qualidade, porque atuar é isso, é entrar em todas as áreas, principalmente com competência em todas, porque saber fazer só uma coisa, com uma receita pronta qualquer um sabe. Ok, nem qualquer um, mas essa é a idéia.
Talvez isso aconteça comigo por eu não ser muito fã de comédia, só gosto das boas, cada vez mais raras, e sendo assim não sou fã de carteirinha desses astros metido a piadista, e vê-los em outro estilo de filme, com outras caretas e expressões se torna uma grata surpresa. Isso já vale a locação.
Exemplo disso são 3 atores hollywoodianos, figuras conhecidas e engraçadas. São eles: Steve Carell, Jim Carrey e Adam Sandler. Representando personagens dramáticas nos filmes, respectivamente: Pequena Miss Sunshine, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Reine Sobre Mim. Filmes interessantes e atuações bem legais, vale a pena conferir.
Tem algo de interessante ao ver naquele rosto geralmente risonho um cenho triste e preocupado. Tem algo de novo naqueles rostos tão conhecidos. Você é pega de surpresa e é aí que está o mais interessante, a surpresa, melhor ainda se for boa.

Marília Dalenogare.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Adorável Juno


Eis que há um filme que quase ganhou uma estatueta dourada, pois é, quase, uma pena, pois com certeza ele tinha calibre pra isso e que nos ganha pela sua simplicidade e grandes diálogos. Uma história apaixonante, leve e com uma pitada de vida real e normal incrível. Este é Juno.
Juno é um filme meio pop e seu lado e visual independente é gritante, ele fala da história da menina Juno, uma adolescente de 16 anos que engravida de um carinha do colégio e que após se dar conta que não tem condições de ficar com a criança decide dar seu filho para adoção, é assim mesmo, simples ela procura em um lugar parecido com os classificados pais para o seu filho e acaba encontrando um casal com pinta de casal perfeito, mas nem tudo são flores.
Quando as pessoas vêm a temática adolescente grávida, todo mundo pensa que é uma história clichê e cheia de lição de moral. Não é, e acredite, Juno é bem diferente. Ele simplesmente não trata da evolução da gravidez dela, mas sim de como Juno recebe essa novidade, lida com ela, conhece a família adotiva e se afeiçoa a eles, algo do tipo.

Além do mais, Paulie, o pai da criança é simplesmente ótimo, ele é feito pelo ator Michael Cera, que representa com maestria aquele garoto bobo e magricela que adora balinhas de laranja. O ator consegue imprimir traços do seu personagem muito bem, como a insegurança, as dúvidas e tudo o mais que acompanha um adolescente que vira pai. Para ter uma idéia da moral dele, quando a Juno conta pro pai dela que ta grávida dele, ele diz algo do tipo: “Não achei que ele fosse capaz”.
O elenco todo do filme é muito bom, tanto o pai de Juno quanto a madrasta dela que é meio tarada por cachorros. Os pais adotivos também são ótimos. Quem dá vida a Juno é a atriz Ellen Page, uma graça de moça, com muita atitude e esperteza, ela enfrenta a gravidez de um modo bem diferente, mas não deixa de transparecer a preocupação que essa situação exige.
O melhor do filme é que aos poucos todos os personagens vão encontrando seu caminho, inclusive os pais adotivos que começam a rever a sua vida de casado após a chegada de Juno, eles aparentemente parecem o casal 20, feliz, bem de vida,com um único problema: a mulher não consegue engravidar e ela é louca para ser mãe. O marido acaba percebendo que todas as suas coisas estão em caixas em uma sala, que na casa limpa e impecável deles não tem lugar para suas guitarras e seus discos.
O filme tem vários diálogos remetendo a algo mais pop, fala de música, de filmes, de comportamento, onde em meio a essas conversas aos poucos Juno vai se identificando com a família que será a família de seu filho. A menina é muito espirituosa, metida a engraçadinha e ela é mesmo bem engraçada, cheia de frases e insinuações bem humoradas.
Ah, outro ponto ótimo do filme são os cenários, que caracterizam demais os personagens, exemplo disso é o telefone em forma de hambúrguer de Juno, isso é a cara dela.

Toda a abordagem do filme, todo o crescimento da protagonista com relação a uma gravidez indesejada é tudo, menos clichê, isso que é meio louco, não que o filme seja leviano ou superficial, não isso, porém o filme trata mais do modo como a adolescente se porta nesse tempo e encara essa doação, como a sua família e seu “namorado” se sentem com relação a isso. É uma progressão. Uma deliciosa e delicada progressão.
O filme tem uma trilha sonora muito boa também, tem gente como Sonic Youth, Cat Power e ainda tem um dueto dos protagonistas em uma música muito gostosa de se ouvir, um dueto suave, o qual fecha o filme com a chave de ouro.
Esse é um filme simples, nada comparado aos padrões hollywoodianos cheios de efeito e vazios de história. Uma produção independente que virou o xodó de muitos festivais, ganhou muitos deles e ainda deixou muitas pessoas com a sensação de injustiça quando ele perdeu o Oscar. Uma grande pedida.

Marília Dalenogare.