segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Síndrome de contos de fada




Uma crítica que eu geralmente ouço e acho bem sem cabimento sobre cinema é sobre a ausência de finais felizes nos filmes. Eu sei, que em comédia romântica é quase obrigatório e que em outros gêneros também é legal, eu não sou uma anti-felicidade, mas é que as vezes tem filmes que pedem algo além disso, além do óbvio, que lidam com uma coisa mais subentendida, mais nas entrelinhas e as pessoas cagam em cima desses filmes, acham uma merda, isso é porque elas não entendem o que aquilo quis passar, o que aquele silêncio, o que aquela coisa vaga significavam, e daí pra variar já saem criticando. Olha essa síndrome de contos de fada atacando as pessoas, a maioria das pessoas já vem mal acostumada desde a infância quando são apresentadas aos contos de fadas e todas aquelas princesas felizes e felizes, que só sabem ser feliz.
Será que sou só eu que vejo beleza em fins tristes e dramáticos? Acredito que não e sinceramente espero que não. Não é só porque aquele casal não acabou junto que o que eles viveram juntos não valeu, é algo assim. Porque se você parar para pensar sobre depois que o filme acaba, o que resta? Felicidade eterna? Não, pode apostar que não, será que aquele casal que se acertou no final do filme nunca mais vai brigar e vai viver em um mundo doce e de perfeita harmonia? Absolutamente não. Então é só você pensar que o roteirista do filme está te poupando de ficar imaginando o depois e já faz eles brigarem ali pra gente entender o que acontece, nos adiantou um tempinho, como se ele nos mostrasse o futuro nos mostrando o presente. Olha que gentil da parte dele.
O que os personagens viveram foi legal, eles foram felizes, mas não quer dizer que eles tenham que passar o resto da vida sorrindo, é castigo demais, isso é só pro Coringa.
É por isso que eu gosto de filmes do Woody Allen, por exemplo, porque ele nos mostra algo mais próximo do real, algo mais palpável, do que a maioria dos outros, ele nos mostra que o grande final feliz não existe, pode existir sim uma longa vida feliz dos personagens, mas não apenas um momento onde eles são felizes e as letrinhas sobem, por isso os finais dos filmes dele são meio abertos, pois os momentos felizes podem vir ou não, de uma forma natural.
Um bom exemplo disso que eu to falando é o filme 500 dias com ela, onde o casal não fica junto no final, e eles não morrem por isso, a vida segue normal, tanto ele quanto ela arrumam outras coisas para fazer além de cortar os pulsos, e é um filme ótimo mesmo assim, na verdade eu acho que ele é ótimo por ser assim,
Mas é óbvio que em determinados filmes um final feliz é o certo, não que isso seja errado, o chato é as pessoas não saberem apreciar os filmes que não tem um final redondinho e nauseante. E eu concordo que quando se trata de romance o melhor é tudo dar certo no final, mas também tem alguns filmes legais, onde as coisas não dão certo e é bem legal também. O lance é saber apreciar o que o filme quer te dizer e não crucifica-lo por ele não ser tão hiper, mega, super feliz. Na verdade o grande barato é enxergar beleza nas coisas tristes e nas coisas naturais. Isso é arte. Isso é a sétima arte.

Marília Dalenogare

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